terça-feira, 19 de agosto de 2014

Depressão mata

O fim do ator, de 63 anos, encontrado enforcado com um cinto e com os pulsos cortados, deveria servir de alerta a esse mal tão comum (e que vem crescendo a cada dia mais) que atinge a população atualmente. Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 350 milhões de pessoas de todas as idades sofrem de depressão. E na sua forma mais grave, pode sim levar ao suicídio. "A estimativa que temos é de um milhão de mortes ao ano", ressalta a OMS. Não seria esse o momento ideal para revermos nossos conceitos e preconceitos?
Pois bem, saibam que a depressão é uma doença (assim como diabetes, hipertensão, alcoolismo e por aí vai), e ela deve e pode ser tratada. Estudos demonstram que fatores biológicos, genéticos e psicossociais interagem entre si na causalidade da doença. Ou seja, não é frescura, falta de amor à vida e muito menos falta de caráter. O fato é que o cérebro do deprimido é diferente do que o de uma pessoa que não foi diagnosticada com a doença. E em momentos de desespero, o lado racional simplesmente desaparece. E é aí que mora o perigo.
O que fazer para ajudar?
Frases do tipo, "por que você não vai dar uma volta?", "pense nas coisas boas da vida", "tem gente muito pior do que você" e "pare de sofrer por besteira", são comuns e extremamente perigosas. Ao invés de julgar, tente prestar um pouco mais de atenção nas coisas que, através das mais variadas formas, levamos à mente das pessoas. Um "pode contar comigo" às vezes faz mais diferença do que você imagina.
Outra coisa que devemos ter em mente é que o tratamento deve ser sempre administrado por parte de profissionais da área psiquiátrica. Se você conhece alguém que sofre da doença, não hesite em chamar ajuda. Ao contrário do que muitos pensam, a depressão tem cura. O que precisa ser feito é mostrar a essas pessoas que tudo pode e vai melhorar. Recentemente o Brasil Post fez um texto interessantíssimo sobre a doença, que vale a pena ser lido e compartilhado.
Para finalizar, um pedido: antes de julgar, se informe. Existem diversas formas de conhecer mais sobre a doença e suas causas. Termino aqui com um relato de Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas, após a morte de Charlie Brown Jr. (também por suicídio):
"O suicídio é quando a gente quase atravessa a ponte. Por volta de 2004 estive muito próximo de por em prática o plano de ir embora. Por vingança. Por acreditar que com essa atitude talvez conseguisse atingir aqueles que estavam me machucando. Quem estava me machucando? Eu acreditava que o mundo todo. A terapia me salvou. Foi onde pude colocar pra fora todas as minhas angústias, as ansiedades e as dores da alma.
Mas por que, você pode perguntar. Você tem tudo que quis. Algum dinheiro, fama, mulheres, prazeres e privilégios que muitas pessoas não têm. Por que pensar em algo assim? As pessoas continuam achando que as questões materiais de fato sejam o suficiente para tapar os rombos na alma... Não são. Dinheiro não é tudo. A segunda razão que leva alguém a decidir pegar seu caminho para longe daqui por conta própria é o desespero. É perceber que por mais esforços que você faça, nada supre os anseios alheios e aqueles que sua alma clama.
A alma dói. É difícil viver as verdades do mundo quando o seu coração não se sente a vontade; aprendi a blindar meu coração, mas não estou livre de sentir. Muitas vezes o desespero bate na minha porta, mas busco sempre e de alguma maneira neutralizá-lo. Aprendi na terapia a criar mecanismos para isso: não guardar rancor; vomitar o que me faz mal internamente; explodir e colocar para fora os sentimentos negativos de ódio, raiva e outros que possam me fazer mal, mesmo que isso pareça um mal no momento em que é exposto.
Tem dias que realmente você não tem vontade de sair da cama. Algumas pessoas reagem melhor que outras, mas não devemos condenar ninguém. O suicídio por muitos é encarado como um ato de covardia, de egoísmo, de fragilidade - e pode até ser. Mas é muito fácil julgar olhando apenas os elementos que te rodeiam. Muito fácil falar quando não é sua alma que está sangrando.
Nessa madrugada mesmo, após receber a triste notícia da morte de Champignon, li mensagens como: 'E agora Tico Santa Cruz? Só falta você'. Acreditam? As pessoas são cruéis.
Não vou teorizar sobre o que levou o Champignon a tal decisão, mas foi algo muito grave e muito triste. Muita pressão. DEPRESSÃO.
Não existe volta. Todos nós temos momentos de dor, alguns sentem mais. Eu decidi que não iria me entregar, mas não me sentiria um covarde se resolvesse partir. O verdadeiro motivo que nos mantém vivos é encontrar algo ou alguém que nos fortaleça nos momentos mais difíceis, e num mundo de tanta falsidade, basta um segundo e você pode perder a razão.
Digo-lhes com convicção - lutem, não se entreguem, não se deixem levar pelo lado cruel das pessoas. Mas lhes digo também: não julguem aqueles que desistiram. Apenas respeitem, por mais difícil que seja. É muito mais difícil amar os outros do que expandir seu ódio e seus conceitos de superioridade".

Identificar a Depressão

7 maneiras de identificar a depressão aos 20 e poucos anos

                    
                
De: Cari Nireberg no LiveScience

Os jovens de 20 e poucos anos têm bastante coisa para deixá-los de baixo astral - seja o estresse de achar um emprego, achar um cônjuge ou pagar o empréstimo estudantil.
Apesar de acharmos que com 20 e poucos anos a vida se resume à diversão e experimentação, a depressão nos jovens é bastante comum.
Jovens adultos estão dizendo adeus à infância e adolescência e tentando encontrar o próprio caminho, ao mesmo tempo em que lidam com mudanças frequentes e incertezas, que podem despertar sentimentos de tristeza e irritação.
Desbravar o mundo, definir a identidade própria, desenvolver a capacidade de manter relacionamentos íntimos e formar a base para uma futura carreira e para a vida adulta são alguns dos desafios enfrentados pelas pessoas aos 20 anos e que podem torná-los mais suscetíveis à depressão, segundo o Dr. Stuart Goldman, psiquiatra da infância e adolescência no Boston Children's Hospital.
Além de tudo isso, quem tem 20 e poucos anos está enfrentando esses desafios antes de o cérebro ter alcançado a maturidade completa. O córtex pré-frontal - a parte do cérebro responsável pela razão e pelo controle dos impulsos – desenvolve-se por volta dos 25 anos.
A maioria das pessoas que possuem uma pré-disposição genética à depressão, tipicamente experimentam o primeiro episódio entre os 14 e 24 anos, disse Goldman. "A grande maioria das pessoas nessa faixa etária com um episódio depressivo terá uma recorrência dentro de cinco anos após o primeiro episódio", ele disse, refletindo a natureza recorrente da doença.
Para identificar se o jovem de 20 e poucos anos está deprimido, Goldman descreveu alguns sinais e sintomas que são comuns nessa faixa etária.
Falta de ânimo. Perder o interesse em atividade antes consideradas como prazerosas é um sinal da depressão, disse Goldman. Esses jovens talvez ainda saiam com os amigos como antes, mas talvez não se divirtam ou sintam prazer na atividade. Ou talvez se isolem e tornem-se menos sociáveis, afastando-se dos colegas e passando mais tempo sozinhos.
Pouca energia. "As pessoas depressivas sentem que não há esperança", Goldman disse ao Live Science. E essa perda de esperança é muitas vezes acompanhada de uma falta de motivação. Sentir-se constantemente de baixo astral parece drenar a energia da pessoa e aumentar o cansaço, dificultando que a pessoa levante da cama ou faça as atividades do dia a dia.
Concentração reduzida. Uma mente cheia de pensamentos negativos e uma visão pessimista da vida pode significar uma falta de foco e pode dificultar a tomada de decisões durante uma fase da vida em que as pessoas precisam tomar decisões importantes sobre suas carreiras, mudança de cidade, conquista da independência financeira e novos relacionamentos. Falta de concentração e atenção na faculdade, no trabalho ou no serviço militar também podem destruir ainda mais a autoestima do jovem adulto.
Acordar cedo. Jovens de 20 e poucos anos deprimidos, muitas vezes, acordam às 4h ou 5h, e não conseguem mais dormir. Os jovens adultos com depressão muitas vezes apresentam níveis mais altos de cortisol, o hormônio do estresse, nas primeiras horas da manhã, o que acaba atrapalhando o sono.
Aumento no consumo de álcool ou outras drogas. Para amenizar a dor e a solidão da depressão, alguns jovens acabam usando o álcool ou outra drogas como um escape ou para anestesiar a dor.
"Seja sincero consigo mesmo sobre o consumo de drogas", disse Goldman. Não basta só dizer que todo mundo usa". Ter um amigo de confiança, seja um amigo ou companheiro(a), pode ajudar no processo de aceitação do problema e na solução do mesmo, ele disse.
Menos interesse no sexo. Durante uma fase em que outros namoram com frequência ou estão querendo um relacionamento mais permanente, a pessoa com depressão pode ter menos interesse no sexo ou uma libido reduzida.
Mudança no peso. Pessoas com depressão podem ter uma mudança no peso, seja para mais ou para menos. Algumas pessoas perdem peso porque perdem o apetite e tem menos interesse em comer, mas outras acumulam os quilos, usando a comida como uma fonte de consolo.
Para os pais de jovens adultos, é um desafio ver o filho(a) lutando com a depressão, também. Goldman recomenda que os pais mudem papel de "administradores" dos filhos, quando chegarem aos 18 a 20 anos, para "consultores", a partir dos 21 anos em diante, estando prontos a ajudar o jovem oferecendo direção e apoio.
Ele disse que os pais devem lembrar que "os jovens adultos precisam ter a capacidade de tomarem as próprias decisões".
A mensagem mais importante para os jovens de 20 e poucos anos é que "a depressão é de fato uma doença tratável", disse Goldman.